quarta-feira, 9 de setembro de 2009

A tormenta de Kassab

Parecia fevereiro, quando famílias retornam à cidade após as férias. Na volta do feriado de 7 de setembro, os paulistanos enfrentaram um temporal com volume de água recorde. Trechos das marginais Tietê e Pinheiros ficaram alagados, semáforos pifaram. São Paulo, novamente, parou. Desta vez, São Pedro terá companhia na distribuição de ofensas. Trata-se do prefeito Gilberto Kassab (DEM).

Desde que se "reelegeu", em 2008, Kassab tem se desdobrado para manter em dia as contas da Prefeitura sem comprometer suas promessas de campanha. Entretanto, prejudica outros serviços, como a varrição de ruas, cuja verba foi reduzida em 20%. Mais lixo nas ruas, mais bocas-de-lobo entupidas, e as consequências de uma chuva forte já são conhecidas pela população.

Kassab chegou à Prefeitura graças ao abandono do tucano José Serra para concorrer às eleições presidenciais de 2006. O ex-vice tratou logo de mostrar serviço: a Lei Cidade Limpa acabou com a farra da publicidade nos outdoors e letreiros do comércio. Também aumentou a tarifa de ônibus para R$ 2,30.

Em 2007, Kassab protagonizou um episódio lamentável: na inauguração de uma AMA (Assistência Médica Ambulatorial) em Pirituba (zona oeste), expulsou aos berros e empurrões o dono de uma fábrica de placas de propaganda, Kaiser Celestino da Silva, que estava no posto de saúde para uma consulta dentária. Ao ver o prefeito, aproveitou para protestar contra a Lei Cidade Limpa.

Em 2008, Kassab resolveu se candidatar à "reeleição", mesmo não tendo sido eleito pelo voto direto em 2004. Mesmo explorando seus feitos da primeira gestão, queria mais, e estendeu para três horas o tempo do Bilhete Único, ignorando o pagamento dos subsídios às empresas de transporte. A gestão chegou a ter aprovação de 61% durante o horário eleitoral gratuito. Mais do que a vitória sobre Marta Suplicy foi a derrota de Geraldo Alckmin, cuja candidatura provocou dissidências entre os tucanos favoráveis a ele e os favoráveis à candidatura do democrata.

Eleito, agora sim, pelo povo, Kassab enfrenta o caos que ele mesmo criou. O lixo que não foi recolhido das ruas entope os bueiros, e a água da chuva não consegue escoar. Automóveis ficam ilhados nas "avenidas-rios", inclusive os ônibus. Os passageiros gastam o tempo extra do Bilhete Único sem poder usufruir das três viagens restantes.

Enquanto isso, a marginal do Tietê fica alagada, mesmo após a obra de rebaixamento da calha do rio, feita em parceira com o Japão durante a gestão do governador Alckmin. As rusgas com o PSDB ocasionaram demissões. O secretário das Suprefeituras, Andrea Matarazzo, deixou o cargo no último dia 2. Membros que apoiam Kassab acumulam funções, como o professor de Direito Alexandre de Moraes, que, além de secretário de Transportes, preside a SPTrans, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) e assumiu a secretaria de Serviços – varrição e coleta de lixo, iluminação e serviço funerário.

Além de ignorar os serviços prestados à população, o prefeito de São Paulo age conforme seus interesses políticos. A chuva de setembro provocou estragos em toda a cidade. No entanto, mais estragos cometeu Kassab, em sua segunda gestão.

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