sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Quatro acertos do SBT em 2010

Continuando o balanço anual da programação do SBT, iniciado em 2008, segue o balanço de 2010. Aqui estão os acertos deste ano:

Silvio absoluto: Silvio Santos teve um 2010 difícil. Com o rombo do Banco PanAmericano descoberto em setembro, correu o risco de perder seu patrimônio. "Silvio Santos está pobre" ecoou na mídia e nas redes sociais. Em dezembro, deixou a segunda maior estrela do SBT, Hebe Camargo, ir para a RedeTV!. Pretextos não faltaram para que os 80 anos do maior ícone da televisão brasileira fossem comemorados com um bolo amargo. No entanto, uma linda homenagem produzida pela família de Silvio e exibida pelo SBT deixou os olhos do "patrão" marejados. E olha que ele nem gosta de festejar aniversário!

Novo sábado: Parece ironia falar em "novo" sábado e citar Raul Gil, mas é inegável a transformação do sábado do SBT em 2010: de dia praticamente morto a uma das principais fontes de audiência da emissora. Com as atrações de sempre e que o consagraram na Record e na Band, Raul Gil impressionou vencendo a Globo. Mudanças serão necessárias para 2011, já que a concorrência começou a se mexer, temendo novas derrotas.

Reprises bem-vindas: Se as novelas da Manchete não surtem mais efeito, as reprises de produções do SBT deram certo. A troca dos filmes do Cinema em Casa pela reapresentação de Pérola Negra (1998) e Esmeralda (2004) devolveu ao SBT a vice-liderança no Ibope no horário. Os futuros títulos a serem reprisados devem ser pensados com cautela para não dispersar o público, principalmente porque a Globo, incomodada, escalou para as tardes um dos maiores sucessos da década: O Clone.

Jornalismo eficaz: Para o SBT, 2010 foi o ano do jornalismo. Pode ter sido um dos motivos da queda da audiência da emissora, sem tradição no jornalismo como Globo, Record e Bandeirantes, porém a vinda de Roberto Cabrini, Marília Gabriela e a cobertura eleitoral exemplar deram credibilidade à equipe comandada por Luiz Gonzaga Mineiro. O caso da "bolinha de papel" no candidato José Serra, flagrada pelo SBT, repercutiu nacionalmente e equilibrou a cobertura parcial e partidária de Globo e Record. Denúncias de pedofilia envolvendo a Igreja Católica em Alagoas exibidas pelo Conexão Repórter chegaram ao Vaticano. O jornalismo do SBT provou, em 2010, que pode não ser "barulhento" como o da concorrência, mas é isento, apartidário e "livre de pressões", como bem disse Carlos Nascimento no editorial do último Jornal do SBT do ano.

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Quatro erros do SBT em 2010

Continuando o balanço anual da programação do SBT, iniciado em 2008, segue o balanço de 2010. Aqui estão os erros deste ano:

Desperdício de séries: Sobrenatural impressionou na audiência. Empolgado, o SBT realizou uma enquete em seu site para definir a série substituta. Os fãs de Gossip Girl votaram sem parar e o resultado foi uma série com público completamente diferente de Sobrenatural no horário, abrindo brecha para a Record contra-atacar com CSI e dar fim à estratégia, até então vitoriosa, do SBT.

Solitários sonolento: O reality show que prometia tortura e testes de resistência, pelo menos nas chamadas, não mostrou a que veio. Solitários tinha potencial, mas a produção adiantada e a edição precária determinaram o fracasso do carro-chefe da programação de verão do SBT. O que era para ser impressionante acabou virando sonolento. A segunda temporada, gravada há um ano, vai estrear na próxima quarta-feira. Erro que se repete.

Manchete morta: As reprises das novelas da Manchete definitivamente provaram sua ineficácia na programação noturna do SBT. Em um erro de estratégia após o fim do fenômeno Pantanal, em 2009, a emissora de Silvio Santos demorou para reprisar Dona Beija (e, quando o fez, foi em outro horário). O desgaste já havia se tornado realidade quando foi decidido reestrear A História de Ana Raio e Zé Trovão. Chamadas prometiam edição ágil e 150 episódios, mas a trama já passou do capítulo 170 e não elevou a audiência noturna do SBT.

Boletim de erros: O Boletim de Ocorrências, jornal policial criado às pressas por Silvio Santos para substituir as famigeradas Pegadinhas Picantes, deu certo no começo, quando tinha pouco mais de dez minutos e mantinha a audiência da série enquanto a novela da Globo não terminava. O formato começou a perder fôlego quando ganhou uma edição às 19 horas. Porém, o desespero pelo avanço da Band no horário nobre gerou uma decisão equivocada: ampliar o B.O. para competir com José Luiz Datena. O resultado não poderia ter sido pior: além da novela para definir o apresentador do telejornal (Roberto Cabrini recusou; cogitou-se a permanência de Joyce Ribeiro; Luiz Bacci chegou a ser anunciado na chamada, mas no dia seguinte assinou com a Record), o escolhido César Filho tem o perfil menos adequado para um programa policial. A audiência não correspondeu e o B.O. encerra sua atividades nesta sexta-feira.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

"Os Cavaleiros do Zodíaco" inédito na TV aberta


Finalmente, após 16 anos na TV brasileira, Os Cavaleiros do Zodíaco terá episódios inéditos. A Saga de Hades, produzida em 2002 e lançada no Brasil pela PlayArte (2006), estreou na manhã desta segunda-feira na Band. Mesmo disponível em DVD e tendo sido exibido pelo canal pago Cartoon Network, em 2007, faltava a televisão aberta, onde tudo começou (lá na extinta Manchete) e agora terminará.

A transmissão da Band, surpreendentemente, agradou. Ao longo do retorno de Os Cavaleiros do Zodíaco à emissora, em 30 de junho de 2010, vários erros foram cometidos durante a transmissão das três sagas clássicas. Primeiramente, começou às 14h15, com dois episódios. Os jogos da Copa do Mundo à tarde prejudicaram a transmissão, e um horário pela manhã foi concedido, dentro do programa infantil Band Kids. Porém, Cavaleiros ficou bem mais escondido às 8h, sem divulgação e com irregularidades. O primeiro episódio exibido no Band Kids foi o quinto da série ("A ressurreição do Dragão").

Com o passar dos episódios, as transmissões ganharam mais profissionalismo. A Band estipulou um padrão, com a abertura completa, retrospectiva do episódio anterior, três comerciais (um exagero, pois um deles poderia estar entre Cavaleiros e o desenho posterior, Jimmy Neutron) e sem encerramento. Aexibição da saga das 12 Casas merece aplausos, já que uma das fases mais violentas da série passou sem cortes na TV aberta, lembrando a transmissão da extinta Manchete, em 1994.

Definida a estreia da Saga de Hades para 12 de novembro, recomeçaram os tropeços. O episódio 109 ("Tome Cuidado, Ikki! Outra triste batalha mortal") cedeu espaço para o Mundial de Vôlei Feminino. Teoricamente, Hades seria adiado para o dia 15, uma ótima data, sendo segunda-feira e feriado. Todavia, a Band pulou o episódio e não o exibiu no dia seguinte. Com atraso, a Band corrigiu o engano, transmitindo o episódio 109 após o 110. Se a série não tivesse sido exibida anteriormente, geraria uma confusão revoltante.

Enfim, a Saga de Hades estreou neste 15 de novembro. Seguindo o padrão, a Band exibiu uma abertura e cortou o encerramento, mas em Hades há uma peculiaridade: duas aberturas - a exclusiva e a clássica "Pegasus Fantasy" remasterizada - e dois encerramentos. A Band optou pela abertura clássica e ainda produziu novo logotipo (inspirado em "Lost Canvas", história inédita na TV). Quatro intervalos comerciais causaram desconforto, mas no fim a emissora pegou os fãs de surpresa exibindo o preview do episódio seguinte - que já existia na série clássica, mas nunca havia sido dublado; em Hades, foi diferente.

Desde a estreia, em 1994, com o episódio "As lendas de uma nova era", até hoje, com "O início de uma nova Guerra Santa", Os Cavaleiros do Zodíaco travou batalhas na TV maiores inclusive do que as dos próprios cavaleiros protagonistas da série. Desta vez, a vitória será dos fãs.

Abaixo, a abertura e o preview exibidos pela Band, disponiblizados pelo site CavZodiaco.com.br:



sábado, 13 de novembro de 2010

Doce imprensa


Amanhã comemora-se o Dia Mundial do Diabetes. A data, 14 de novembro, foi criada pela International Diabetes Federation (IDF) para homenagear o aniversário do cientista canadense Frederick Banting, que em 1921 descobriu a insulina em parceria com Charles Best. A insulina, hormônio produzido pelo pâncreas e que nos diabéticos tem sua produção reduzida (tipo 2) ou nula (tipo 1), consegue levar a grande molécula de glicose às células. Após esta introdução, vamos falar sobre como a mídia trata a doença.

Os casos de diabetes tipo 2 estão aumentando exponencialmente. Estima-se que em 2030 tenham no mundo 435 milhões de diabéticos. O tipo 2, responsável por 90% dos casos, é resultado da "correria" (que, infelizmente, nada tem a ver com atividade física): pessoas cuja rotina limita-se ao comer, sentar, trabalhar, comer, ver TV, comer e dormir. Dessa forma, não há pâncreas que aguente, a glicemia fica alterada, a pressão sobe, o stress aumenta... e surgem as doenças contemporâneas - o diabetes tipo 2 está nesse grupo.

A mídia atrapalha para a explosão dessas doenças. Primeiramente, veiculam matérias sobre saúde e nutrição e falam que dá para curar todas as doenças com "alimentação balanceada e atividade física". Depois, o Globo Repórter aparece com as "ervas que curam". Desse modo, qualquer pessoa acha que diabetes tipo 2 não é perigoso e que tratar é fácil - e não tratam.

O diabetes tipo 1 é ainda mais esquecido, quase "marginal". Claro, o tipo 1 não se cura apenas com "alimentação balanceada e atividade física", nem com "ervas que curam". Sem desmerecer os tratamentos alternativos, mas o tratamento do tipo 1 é com injeções de insulina, e mostrar esse "sofrimento" para o grande público dói.
Até porque não há cura para o tipo 1. E doença que a mídia não consegue curar é esquecida.

Felizmente, há exceções: a única vez em que a imprensa tratou o diabetes tipo 1 de maneira exemplar foi em março de 2008, na série de reportagens "Diabetes - A vida pode ser doce", do jornalista Arnaldo Duran, exibida pelo Jornal da Record. A série pode ser vista nos vídeos abaixo.












quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Evento reúne fãs do seriado "Chaves" no Rio de Janeiro



No próximo sábado, dia 20 de novembro, a partir das 10 horas, os fãs do seriado mexicano Chaves irão se reunir na 2ª Convenção Jovem Ainda, organizada pelo fã-clube CHESPIRITO-Brasil, o maior sobre Chaves no país. A segunda edição do evento, que acontece desde 2007, será realizada no Campus Maracanã da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).

Além de participar de gincanas temáticas que remetem ao seriado, como equilibrar uma vassoura no pé, os fãs terão a chance de conhecer os dubladores oficiais dos personagens do desenho animado do Chaves. Nomes confirmados: Gustavo Berriel (Nhonho), Beatriz Loureiro (Bruxa do 71), Duda Espinoza (Godines), Waldir Fiori (Jaiminho) e Aline Ghezzi (Paty). Também está programado um show da banda Netos de Dona Neves, com músicas do seriado.

A 2ª Convenção Jovem Ainda será o décimo evento organizado pelo fã-clube CHESPIRITO-Brasil desde sua criação, em 2002. O maior deles aconteceu em 24 de abril de 2010: o 2º Festival da Boa Vizinhança, que trouxe a São Paulo os atores originais do seriado Carlos Villagrán (Kiko) e Edgar Vivar (Senhor Barriga/Nhonho).

O seriado Chaves estreou no México em 1971 e foi vendido para mais de 80 países. No Brasil, é exibido pelo SBT há 26 anos e pelo canal pago Cartoon Network desde o dia 1º de novembro de 2010.


Serviço:

2ª Convenção Jovem Ainda

Data: 20 de novembro de 2010 (sábado), das 10h às 20h

Local: UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) – Campus Maracanã

Endereço: Rua São Francisco Xavier, 524 – Maracanã – Rio de Janeiro (RJ)

Ingresso: R$ 7 + 1kg de alimento não-perecível (ou R$ 10)

Mais informações: http://sitedochaves.com/

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Os fins sobrepujam os meios

No dia 7 de novembro, o jornalista Daniel César publicou em seu blog, TV x TV, uma crítica intitulada "Teleton e o Assistencialismo Barato", sobre a transmissão do evento que arrecada fundos para a AACD (Associação de Assistência a Criança Deficiente). A crítica rendeu comentários furiosos dos leitores. A crítica pode ser lida acessando este link: http://is.gd/gO5dH Abaixo, está a minha resposta à crítica de Daniel César:

Os fins sobrepujam os meios

A TV é, ainda, o meio mais eficaz de divulgação de uma marca, um produto ou uma ideia, por ainda ser o veículo mais democrático e mais acessível, já que quase todos os lares possuem televisores. Dessa forma, a AACD precisa da TV para divulgar seu nobre trabalho na recuperação de deficientes físicos.

Se não fosse a TV, e se a AACD não fosse lembrada ano a ano por causa do Teleton, aposto que a associação jamais conseguiria arrecadar R$ 23 milhões em duas noites. Muitas pessoas só lembram que a AACD existe uma vez por ano, porque assistem ao Teleton - por isso é fundamental levar as crianças deficientes ao palco, mostrar o tratamento dado a elas, enfim, divulgar o trabalho da AACD.

Muitas destas pessoas são fãs dos artistas que participam do Teleton. Por isso a presença desses artistas é importante. Eu diria que é um apelo midiático do bem. O Léo, da dupla Victor & Léo, falou bem sobre isso no sábado, que a causa de ajudar é maior e mais importante do que a presença dos artistas no palco (não foi com essas palavras). Mesmo que as pessoas contribuam somente porque os artistas pedem, pelo menos elas doam.

Sobre o apelo por ibope, o Teleton e o único "programa" que converte instantaneamente audiência em dinheiro. Cada doação de R$ 5 era uma pessoa assistindo (que pode ter doado mais vezes também). Programas de TV precisam de audiência para mostrar os altos índices do Ibope ao mercado publicitário e, assim, faturar. Contudo, no Teleton, a única instituição que "fatura" é a AACD, diferenciando-se, assim, do mencionado Programa do Gugu.

Acho muito válido ter uma opinião contundente sobre o Teleton, Daniel. Ainda mais nessa sociedade hipócrita, que liga para o Teleton e discrimina os deficientes físicos nos outros 364 dias do ano. Porém, não tratando o evento como um mero show sensacionalista. A TV, em sua característica fundamental, é show. Para chamar o público, o show é um dos meios mais eficazes. E o Teleton deve continuar assim, porque seu motivo é nobre.

Sabe aquela frase do pensador Maquiavel, "Os fins justificam os meios"? No Teleton, esta frase ganha novo sentido: "Os fins sobrepujam os meios".

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Chaves no Cartoon Network: Independência

Não, este post não é sobre a eleição de Dilma Rousseff como a primeira presidente do Brasil. Hoje, o canal pago Cartoon Network começou a exibir o seriado Chaves, às 9h30, com episódios inéditos. O fato surpreendeu os fãs, incendiou os fóruns da internet e deixou o gosto de surpresa para logo mais, às 20h30, quando será exibido Chapolin. Abaixo, meu comentário em um desses fóruns:

Pelo menos para nós, fãs brasileiros, o dia 1º de novembro de 2010 é o Dia da Independência do SBT. Conhecemos El Chavo del 8 graças ao SBT, retribuimos com audiência, e essa relação se mantém há 26 anos.

Mas nós, fãs brasileiros, nos informamos pela internet e descobrimos um incontável número de episódios que o SBT não exibe, seja por capricho, seja porque não os comprou mesmo. Desde então, passamos a criticar o SBT por cortar um episódio aqui, editar outro ali, cancelar outro acolá. E o SBT, responsável inclusive pela existência do fã-clube e deste fórum, passou a ser nosso alvo.

Há algum tempo, já estamos acostumados a assistir a CH por outros meios: Repretel (canal da Costa Rica, certo? Já vi uma vez e boa parte da coleção de episódios de alguns fãs veio da Repretel), TLN e agora Cartoon Network. Este último um canal de maior alcance, embora seja pago. Sempre detestei TV paga, por ser paga (e por não tê-la em casa também). É muito restrita, sempre foi associada à elite que pode pagar, e nunca gostei disso. Mas cada vez mais brasileiros estão tendo acesso aos pacotes econômicos da NET, SKY e similares e, assim, podem ver CH no Cartoon Network, canal com muito mais visibilidade do que o TLN, da Televisa. O SBT, a partir de hoje, perdeu sua importância no meio CH, virando uma alternativa secundária para assistir às séries.

Ironicamente, a partir da exibição de hoje, notei que a TV aberta é mais fechada do que a própria TV por assinatura. As emissoras tentam padronizar o conteúdo importado que exibem ao grande público. Podem ver na abertura editada dos Simpsons, na Globo. Chaves, Chapolin e Chespirito sofreram com este padrão. Às vezes, o feitiço vira contra o feiticeiro, como a tradução da saga de Acapulco, que virou Guarujá, e mesmo assim todos falam Acapulco.

O exemplo acima é consequência de outra burrada: comprar o primeiro episódio da saga separado dos outros dois. Isso faz lembrar uma coisa: estamos independentes do SBT, mas quem está acima de SBT, TLN e Cartoon Network é a própria Televisa. Grande parte das imperfeições do SBT quanto a Chaves é culpa da Televisa. As outras burradas são culpa desse padrão que o SBT, como canal aberto, tenta imprimir a seu público.

Enfim, 26 anos depois, chegamos à conclusão - óbvia - de que Chespirito é maior que o SBT. Falta o mundo descobrir que Chespirito é maior que a Televisa.


Abaixo, a primeira exibição de Chaves pelo Cartoon Network:








domingo, 31 de outubro de 2010

O destino do Brasil

Em quem os brasileiros vão votar?

Na Dilma...




... ou no Serra?



sábado, 18 de setembro de 2010

O futuro já começou

O título condiz com o tema deste texto, sobre o aniversário da TV brasileira. Conhecido verso da música de final de ano da maior emissora do Brasil, "O futuro já começou" também representa o atual estágio da nossa televisão. Entre a resistente velha guarda, há jovens que mantêm a "fábrica de sonhos" funcionando.

Parece que o tempo não passou para a TV brasileira. Na Globo, a nova novela das seis, Araguaia, terá no elenco Lima Duarte, Regina Duarte e Laura Cardoso. A novela das sete voltou 25 anos para resgatar o sucesso de Ti-ti-ti. O SBT é a maior prova do passado no presente: Manoel da Nóbrega criou A Praça da Alegria em 1957, e seu filho, Carlos Alberto, manteve a ideia em A Praça é Nossa. Sem contar os ícones: Raul Gil, Hebe Camargo e o mestre Silvio Santos, que sustenta a audiência de sua emissora com reprises - das câmeras escondidas dos anos 1990 às novelas da extinta Rede Manchete, passando pelo mexicano Chaves, há 26 anos no ar.

Apesar disso, a renovação da TV já começou há mais de vinte anos e está se aproximando do ápice. Silvio Santos já tinha consciência de sua finitude quando anunciou a aposentadoria, em 1988, deixando os domingos sob a responsabilidade do pupilo Gugu Liberato - o que não ocorreu. A Globo já sabia que deveria ter um substituto para Chacrinha, um velho guerreiro em fase terminal. Fausto Silva preencheu a lacuna parcialmente: sua língua - o que que mais o aproximava de Abelardo Barbosa - foi polida. E o gordo desbocado do Perdidos na Noite virou o Faustão, em 1989. Hoje, o destino dos programas de auditório está nas mãos de Celso Portiolli (SBT), Luciano Huck (Globo) e Rodrigo Faro (Record).

Em 1990, veio a MTV Brasil e um novo conceito: a segmentação. A TV por assinatura, ascendente mas ainda tímida nas classes mais baixas, impulsionou essa transformação. Canais destinados à mulher, à criança, à música, ao cinema, ao jornalismo. Com o controle remoto, o telespectador aprendeu a escolher. A primeira década do século XXI termina com as emissoras tentando adivinhar o que atrai audiência certa.

Tal poder de decisão definirá os rumos da TV nos próximos anos. Com o público cada vez mais longe de casa, o televisor terá mais importância como artigo decorativo, mas a televisão continuará existindo: na internet, no celular. O televisor será mais móvel como nunca. A alternativa para escapar da concorrência com outras mídias é unir-se a elas.

E o conteúdo? Prognóstico mais certo é o da continuação da hegemonia da Globo. Mas o futuro das emissoras restantes é incerto. O SBT não sabe como irá se comportar quando Silvio Santos inevitavelmente parar. A Record ainda tem dificuldade para andar com as próprias pernas - e abandonar as duas muletas: Igreja Universal e cópia do Padrão Globo de Qualidade. A RedeTV!, caçula dos canais VHF, investe em tecnologia o que não investe em excelência na programação. À Band falta a mesma ousadia com a que apresenta no jornalismo.
As maiores transformações de fato acontecerão quando as gerações seguintes assumirem o controle das emissoras. A atuação dos herdeiros dos Marinho, dos Abravanel e dos Saad definirá se a TV realmente entrará em nova fase. Mas o público - felizmente - tem mais opções para se informar e se entreter. Quando quiser. Onde quiser. A TV já moldou o brasileiro. Chegou a vez de o brasileiro moldar a TV. O futuro já começou.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Autobiografia alvinegra

É fácil demais torcer pelo time que está ganhando. Queremos ser vencedores, e imprimimos nossa vontade de triunfar, por exemplo, no futebol. Então, como explicar a existência de uma Nação formada por 30 milhões de apaixonados por um time que não conquistou títulos internacionais significativos nem possui estádio – por enquanto – digno? Uma pergunta tão complexa pode ser respondida com exemplos pessoais. Conto, pois, o meu.

Contrariando a lógica familiar, não herdei de meu pai o time do coração. Simplesmente porque ele não torcia – e ainda não torce – por time algum. E a aversão dele ao futebol contagiou-me durante sete anos. Minha memória inicia-se em 1993, quando decidi ser torcedor de um time por ano. Isso mesmo. Só que a memória para aí. Não me lembro quais os times escolhidos, exceto por uma lembrança: uma caneca, comprada em 1993, do Corinthians. Nesse ano, portanto, eu era corintiano. Ano em que o Corinthians não foi campeão – perdendo inclusive para seu arquirrival, Palmeiras. Por que torci por um time perdedor, então?

O ano de 1997 foi um divisor de águas. O Corinthians venceu o Campeonato Paulista às vésperas do meu aniversário de oito anos. Fui seduzido pela conquista, que acalmou um dos anos mais conturbados de minha vida. A partir do título paulista, tornei-me corintiano. Mas o azar pegou-me de surpresa: o segundo semestre do time foi catastrófico, correndo o risco de cair para a segunda divisão no Campeonato Brasileiro. No entanto, mantive minha fidelidade ao Corinthians. Por quê?

Fiel em 1998, quando Raí tirou o título paulista do Corinthians. Jogo que perdi. Tive que acompanhar minha mãe em uma busca inquietante pelo CD “Chiquititas 2” para minha irmã. Minha fúria, aos 9 anos de idade, era mais uma prova de que já não pertencia a mim mesmo, mas ao Corinthians.

Em seguida, veio a época mais vitoriosa do clube. Quatro títulos, sendo dois nacionais e um mundial. Entreguei minha vida ao Corinthians, colecionando tudo (o que estava ao alcance do meu bolso infantil) sobre o clube. Camisas, jornais, pôsteres e revistas – a maioria destas, aliás, assinadas por quem viria a ser meu professor de Jornalismo, uma emocionante coincidência. Em 1999, era orgulho ser corintiano, mesmo tendo sido eliminado da Taça Libertadores pelo Palmeiras. E daí? Aquele timaço apaixonado sobrepujava qualquer gozação adversária.

O desafio final veio em 2000. Comemorei o Mundial embalado pelas conquistas do ano anterior. Contudo, a nuvem alvinegra que pairou sobre mim durante esse tempo tornou-se negra por completo. Uma de minhas maiores decepções como corintiano aconteceu em 6 de junho. Terça-feira. Véspera do meu aniversário de 11 anos. Semifinal da Taça Libertadores. Corinthians x Palmeiras. Após termos vencido com suor e raça o primeiro jogo por 4 a 3, nos preparamos para a segunda e decisiva partida. Jamais havíamos chegado tão longe na competição mais aguardada pelos corintianos. O calendário castigou o time, que tinha três jogos importantíssimos na mesma semana. Os reservas foram eliminados da Copa do Brasil pelo Botafogo, na quinta-feira. Dois dias depois, o São Paulo nos tirou do Paulistão. Revés atrás de revés, mas não me desanimei e acompanhei o jogo da minha vida pela televisão.

O resultado: eliminação nos pênaltis. Após a cara incrédula, o desabafo. O choro incontido no quarto. A expectativa ruim para o dia seguinte, quando esperaria os colegas palmeirenses prontos para tirar sarro do único corintiano da sala. Eu já sofria bullying por outros motivos, desta vez por ser corintiano. E agora, o que faço? Troco de time? Desisto do futebol? Não. Bom, eu realmente me afastei do vício e ingressei na pré-adolescência. Mas o amor que eu acreditava ter sido suprimido pela dor da derrota, reaparecia a cada título posterior. Sem perceber, comemorei com incrível entusiasmo as conquistas no Campeonato Paulista, na Copa do Brasil e no Campeonato Brasileiro. Resisti às lágrimas em 2007. Vibrei com a volta em 2008.

Tantas derrotas citei neste texto. Tantos motivos para desistir de ser corintiano. Mas corintiano não desiste. Porque ser corintiano é razão de existência. Quando menos se espera, corpo e alma estão amalgamados ao amor pelo Corinthians. Não vibro pela vitória. Não vibro pela derrota. Vibro pelo Corinthians, e agradeço por essa alma alvinegra ter dado a mim um motivo para sorrir – e chorar; enfim, para viver. Obrigado, Corinthians!