segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Tensão na TV

Na última semana, Globo e Record trocaram acusações em seus principais telejornais. Ignorando o jornalismo, o Jornal Nacional (ao lado) expôs denúncias já arquivadas contra a IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), salientando a prática do dízimo. O Jornal da Record respondeu atacando: relembrou alguns escândalos políticos da concorrente, usando cenas do documentário Brazil: Beyond Citzen Kane (1993). A briga, que se estendeu neste domingo, no Fantástico e no Repórter Record, tem como motivos indiretos a intolerância religiosa de uma e o crescimento em audiência de outra.

A Globo demonstrou, ao longo de sua história, profunda aversão ao protestantismo. Além de não vender sua programação a igrejas evangélicas – a propósito, exibe missas do padre Marcelo Rossi nas manhãs de domingo –, demonstra sua intolerância através de reportagens "investigativas", denunciando a utilização do dízimo para fins nem um pouco sagrados, como em 1990, no Globo Repórter, apresentado por Celso Freitas, e em 1995, no Jornal Nacional, sob o comando de Sérgio Chapelin. Em 2008, a Record deu o troco em reportagem veiculada no Domingo Espetacular, sobre a discriminação religiosa nas novelas da emissora carioca.

Além disso, a Globo não engoliu a perda dos direitos de transmissão da Olimpíada de 2012, em Londres, para a emissora de Edir Macedo. Os Jogos Pan-Americanos de 2011 e 2015 também foram adquiridos.

Desde 2004, a Record impulsionou sua audiência, investiu no jornalismo e na teledramaturgia. Três anos depois, em 2007, ultrapassou o SBT e tornou-se vice-líder, no mesmo ano em que inaugurou a Record News, primeiro canal aberto de jornalismo, sob o pretexto de "derrubar o monopólio" da informação. O sucesso da programação da Record gera controvérsias: cópias de formatos da concorrente puseram em xeque a originalidade e criatividade da emissora.

O avanço da Record atrapalhou os investimentos da Globo. Em 2008, o capítulo de estreia de A Favorita, principal atração da Globo obteve o pior índice de uma novela das oito. O inconveniente foi o encerramento de Caminhos do Coração, cujo horário de exibição foi alterado para prejudicar a concorrente. Em 2009, o ótimo desempenho de Caras e Bocas e Caminho das Índias não se repetiu nos reality shows. Jogo Duro e, mais recentemente, No Limite perderam a liderança para A Fazenda, cópia da Casa dos Artistas, do SBT, que, em sua primeira edição (2001), pôs fim à hegemonia da Globo nas noites de domingo, pelo menos temporariamente.

Apesar de a Record comemorar a liderança no Ibope em vários horários, ainda não houve consolidação do segundo lugar. O SBT, confiante, está se recuperando, voltando a investir, contratando, o que resultou em uma disputa paralela contra a Record, paralela à de agora, contra a Globo. Mesmo assim, são poucos os horários em que o SBT atinge a vice-liderança, bem diferente de anos anteriores, em que batia a Globo com programas populares.

Enquanto a Record se gaba por incomodar a supremacia da Globo, luta para não perder o segundo lugar para o recém-desperto SBT. Entre acusações e denúncias, o telespectador é o maior prejudicado, por ter de acompanhar a troca de farpas travestida de jornalismo.

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