quarta-feira, 1 de julho de 2009

Jornais de bairro: a representação da comunidade

Periódicos locais se consolidam como prestadores de serviço para seus leitores

Já dizia o editor do Rocky Mountain News, jornal publicado em Denver (EUA), de abril de 1859 a fevereiro de 2009: "Uma briga de cães nas ruas de Denver merece mais espaço do que uma guerra na Europa". O jornalismo local se firma como um importante veículo para a comunidade se expressar e reclamar sobre problemas relacionados ao bairro onde mora.

O jornal é um exemplo. Desde a circulação de O Braz, o primeiro periódico voltado para uma região específica de São Paulo, em 1º de setembro de 1895, as publicações – geralmente em formato pequeno, no estilo tabloide – apostam na prestação de serviço como enfoque principal.

No Impacto News não é diferente. Em circulação desde 1999, o periódico noticia, sobretudo, buracos em vias públicas e esgotos a céu aberto. As reclamações se enquadram à região por onde o jornal circula gratuitamente a cada quinze dias: os bairros próximos à Parada de Taipas, zona noroeste de São Paulo, que não se desenvolveram como outras regiões da cidade.

O editor César Borges esclarece como é feito o contato do leitor com o jornal: "Os leitores nos contatam por telefone, fax ou e-mail; em seguida saímos para a apuração". Após isso, o jornal comunica à instituição reclamada sobre o problema, geral-mente por e-mail. "As reivindicações que envolvem fornecimento de água e saneamento básico são enviadas à Sabesp. As que envolvem luz e energia elétrica, à Eletropaulo. Reclamos sobre buracos na rua são levados à subprefeitura", afirma.

Na coluna "De olho na região", o jornal informa aos moradores sobre futuras ações da Prefeitura e de outros órgãos prestadores de serviço no bairro, desde a limpeza de bueiros até a passagem de uma biblioteca móvel pelas ruas da região.

O editorial é o espaço destinado à opinião do jornal. O mais recente aborda como o álcool atua no organismo, alertando os que ainda permanecem com o costume de beber antes de dirigir. "Em alguns editoriais, além da opinião do jornal, existem informações de utilidade pública", explica.

A coluna "Antes e depois" mostra o problema assinalado pela comunidade e sua resolução. Em sua edição mais recente, o periódico noticiou que vereadores registraram nos Anais da Câmara Municipal o requerimento RDS 031/09, que contém voto de júbilo e congratulações ao jornal pelo serviço que presta à população da zona noroeste de São Paulo, especialmente através dessa coluna.


Segundo César, a única fonte de renda do jornal é o amplo espaço dado a lojas dos bairros por onde circula: "Não nos vinculamos a nenhuma associação, pois teríamos de repassar uma porcentagem da venda dos anúncios para ela". Os anúncios são cobrados de acordo com o tamanho e a localização na página.

Outro jornal atuante na região noroeste de São Paulo é o Freguesia News. Segundo o editor Célio Pires, "o jornal enfatiza a informação do leitor; no entanto, também aproveita material informativo oficial."

O periódico é distribuído gratuitamente em bancas e enfoca todos os acontecimentos relacionados à região por onde circula semanalmente: a Freguesia do Ó e seus bairros vizinhos.

Célio afirma que a dependência da venda de anúncios é "evidente, já que o jornal é gratuito" e ressalta: "O mesmo fato também ocorre na grande imprensa, que esconde essa relação". O editor declara haver preconceito de algumas empresas contra a publicação: "Há preconceito sim, principalmente das agências de publicidade e de grandes supermercados, pois não há quem fiscalize o jornal de bairro como tem o IVC (Instituto Verificador de Circulação) na grande imprensa, e também há muito jornal de bairro picareta".


Brás foi o precursor dos jornais de bairro

O livro Os jornais de bairro na cidade de São Paulo aponta que os primeiros jornais de bairro surgiram no Brás, zona central de São Paulo. Após o lançamento de O Braz – que teve somente três números publicados -, surgiram a Tribuna do Braz (1897), a Gazeta do Braz e a Folha do Braz (1898). De acordo com a publicação, todos eles tiveram a defesa dos interesses do bairro como intenção.

O primeiro jornal de bairro fora do Brás apareceu em 1900, com a publicação de O Bandeirante, no bairro da Penha (zona leste). Depois, outros bairros receberam suas publicações: o Belenzinho, zona leste, e O Marco (1907); a Luz, centro, e O Vagalume (1908); a Lapa, zona oeste, e a Tribuna da Lapa (1910); Santo Amaro, zona sul, e o Sol Levante (1910); Santa Cecília, centro, e O Ceciliano (1911).

Atualmente, estima-se que cerca de 200 jornais de bairro circulam na cidade.

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