terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Gazeta: a "nanica" imponente

No aniversário de 416 anos de São Paulo, a cidade ganhou uma emissora de televisão para chamar de sua: a Gazeta. Quarenta anos depois, a trajetória do canal da Fundação Cásper Líbero, que se confunde com a história recente da metrópole, é contada pelo pesquisador Elmo Francfort no livro Av. Paulista, 900: A História da TV Gazeta.

O livro, impresso pela Imprensa Oficial, integra a Coleção Aplauso, da mesma editora do Governo do Estado. O lançamento aconteceu na noite de aniversário da emissora, no Teatro Gazeta. Centenas de personalidades e profissionais de diferentes épocas da TV quarentenária compareceram à noite de autógrafos.


Telões exibiam momentos marcantes da trajetória da emissora. Equipamentos antigos, datados da época da fundação, foram expostos no evento. A TV Gazeta exibiu links ao vivo no programa Todo Seu, de Ronnie Von, excepcionalmente apresentado ao vivo.

Elmo, de 27 anos, também publicou Rede Manchete: Aconteceu Virou História (2008), é diretor da Associação Pró-TV e responsável pelo departamento histórico do Museu da Televisão. Um fã declarado de televisão que soube unir o útil ao agradável.

"Quando a gente faz o que gosta vai longe. E acho importante essa paixão pela TV, justamente no sentido de preservar a própria história, seja da TV, do rádio, do jornalismo. Isso é muito importante, não apenas para mim, mas também para as pessoas que são do meio, para aprender um pouco mais e fazer cada vez mais um trabalho que faça com que o jornalismo evolua mais ainda", declarou Elmo Francfort durante a sessão de autógrafos de seu mais recente livro.

Quem também não poderia deixar de comparecer é Vida Alves. A atriz de 81 anos (fará 82 em abril), protagonista do primeiro beijo da TV brasileira, fundou a Associação dos Pioneiros da Televisão Brasileira, e lamenta a falta de interesse pela conservação da história deste meio de comunicação. "Acho difícil convencer autoridades, os governadores, os prefeitos. Eu estou sempre batendo nas portas. Um dia acontecerá [o interesse], mas ainda não aconteceu."

Vida, aliás, considera-se "predestinada". Além do beijo, até então inédito, em Sua vida me pertence (1951), apresentou o primeiro programa regular em cores da TV brasileira, na Gazeta, em 14 de março de 1972: Vida em Movimento. O vestido azul e vermelho que estava na exposição foi usado por Vida no programa e pareceu simples para uma ocasião tão importante. Ela se justifica: "O meu vestidinho era mais bonitinho, este é uma réplica. O capricho está sempre em concordância com o bolso, você sabe que o bolso não era muito cheio. Mas, de qualquer forma, houve a intenção de colocar duas cores no vestido".


Apesar de - ou por - ser a menor das emissoras abertas, a Gazeta é lembrada por sua independência editorial e pela isenção jornalística. "Aposto que em uma TV grande um editor não pode trabalhar como redator ou como repórter. Em uma emissora pequena, não. Você redige o texto, de repente, diante da necessidade, o editor-chefe chama para fazer um trabalho de repórter. Em uma TV de pequeno porte você consegue trabalhar em todas as áreas. É ideal para quem quer começar", diz Laerte Vieira, âncora do Jornal da Gazeta.

Outro que reconhece a liberdade que a Gazeta proporciona é Leão Lobo, que saiu da emissora em 2002, quando uma crise provocou demissão de funcionários e foi comparada por muitos à crise que extinguiu a Rede Manchete (1983-1999). Embora tenha passado por outros veículos que proporcionam independência jornalística - rádios Globo e Record e TV Bandeirantes -, o apresentador, atualmente na CNT, recorda com saudade sua época na Fundação Cásper Líbero.

"Algumas emissoras são grandes, mas comprometidas. Aqui na Gazeta era uma maravilha, eu amava trabalhar aqui, disse isso no depoimento que dei sobre a história da Gazeta, e é o que eu sinto. É uma emissora em que eu saí chorando e voltaria sorrindo, porque eu amo essa casa, deixei grandes e queridos amigos", relembra Leão.

Durante a pesquisa para a publicação. O escritor revelou que aprendeu "que sempre é possível fazer a lei. Você pode ter o recurso que tiver, mas se não tiver a cabeça para usar esses recursos, você nunca vai fazer nada."


Mais eventos relacionados à TV acontecerão em 2010, em virtude do aniversário de 60 anos de sua inauguração no Brasil, em 18 de setembro. "Teremos uma exposição na Caixa Cultural e um evento, este ainda está só embrionariamente preparado, que vai ser – espero – na Sala São Paulo, homenageando os pioneiros", antecipa Vida Alves.

Já Elmo Francfort esconde o jogo quanto a futuras publicações televisivas: "Surpresa, surpresa". Os admiradores da história da TV aguardam as novas pesquisas, que, certamente, serão fontes de estudo nas bibliotecas das principais faculdades de comunicação do país.

2 comentários:

  1. "Os admiradores da história da TV aguardam as novas pesquisas, que, certamente, serão FONTE DE ESTUDO NAS BIBLIOTECAS das principais faculdades de comunicação do país."

    Ainda bem que o livro foi lançado só em 2010. Um a menos na "pequena" bibliografia do trabalho sobre a história da televisão. Falando sério, a Gazeta há tempo merecia um livro. Foi duro escrever sobre essa emissora sem ter um livrinho sequer para consultar. Pior seria sem Wikipédia...

    Ah, e a editora é a mesma de "Gloria in Excelsior", do Álvaro de Moya. Até agora aplaudo esse trocadilho no título.

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  2. Corrigido. E a Gazeta deixou seu passado desaparecer, foi realmente dura para o Elmo a pesquisa.

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