


É fácil demais torcer pelo time que está ganhando. Queremos ser vencedores, e imprimimos nossa vontade de triunfar, por exemplo, no futebol. Então, como explicar a existência de uma Nação formada por 30 milhões de apaixonados por um time que não conquistou títulos internacionais significativos nem possui estádio – por enquanto – digno? Uma pergunta tão complexa pode ser respondida com exemplos pessoais. Conto, pois, o meu.
Contrariando a lógica familiar, não herdei de meu pai o time do coração. Simplesmente porque ele não torcia – e ainda não torce – por time algum. E a aversão dele ao futebol contagiou-me durante sete anos. Minha memória inicia-se em 1993, quando decidi ser torcedor de um time por ano. Isso mesmo. Só que a memória para aí. Não me lembro quais os times escolhidos, exceto por uma lembrança: uma caneca, comprada em 1993, do Corinthians. Nesse ano, portanto, eu era corintiano. Ano em que o Corinthians não foi campeão – perdendo inclusive para seu arquirrival, Palmeiras. Por que torci por um time perdedor, então?
O ano de 1997 foi um divisor de águas. O Corinthians venceu o Campeonato Paulista às vésperas do meu aniversário de oito anos. Fui seduzido pela conquista, que acalmou um dos anos mais conturbados de minha vida. A partir do título paulista, tornei-me corintiano. Mas o azar pegou-me de surpresa: o segundo semestre do time foi catastrófico, correndo o risco de cair para a segunda divisão no Campeonato Brasileiro. No entanto, mantive minha fidelidade ao Corinthians. Por quê?
Fiel em 1998, quando Raí tirou o título paulista do Corinthians. Jogo que perdi. Tive que acompanhar minha mãe em uma busca inquietante pelo CD “Chiquititas
Em seguida, veio a época mais vitoriosa do clube. Quatro títulos, sendo dois nacionais e um mundial. Entreguei minha vida ao Corinthians, colecionando tudo (o que estava ao alcance do meu bolso infantil) sobre o clube. Camisas, jornais, pôsteres e revistas – a maioria destas, aliás, assinadas por quem viria a ser meu professor de Jornalismo, uma emocionante coincidência. Em 1999, era orgulho ser corintiano, mesmo tendo sido eliminado da Taça Libertadores pelo Palmeiras. E daí? Aquele timaço apaixonado sobrepujava qualquer gozação adversária.
O desafio final veio em 2000. Comemorei o Mundial embalado pelas conquistas do ano anterior. Contudo, a nuvem alvinegra que pairou sobre mim durante esse tempo tornou-se negra por completo. Uma de minhas maiores decepções como corintiano aconteceu em 6 de junho. Terça-feira. Véspera do meu aniversário de 11 anos. Semifinal da Taça Libertadores. Corinthians x Palmeiras. Após termos vencido com suor e raça o primeiro jogo por
O resultado: eliminação nos pênaltis. Após a cara incrédula, o desabafo. O choro incontido no quarto. A expectativa ruim para o dia seguinte, quando esperaria os colegas palmeirenses prontos para tirar sarro do único corintiano da sala. Eu já sofria bullying por outros motivos, desta vez por ser corintiano. E agora, o que faço? Troco de time? Desisto do futebol? Não. Bom, eu realmente me afastei do vício e ingressei na pré-adolescência. Mas o amor que eu acreditava ter sido suprimido pela dor da derrota, reaparecia a cada título posterior. Sem perceber, comemorei com incrível entusiasmo as conquistas no Campeonato Paulista, na Copa do Brasil e no Campeonato Brasileiro. Resisti às lágrimas em 2007. Vibrei com a volta em 2008.
Tantas derrotas citei neste texto. Tantos motivos para desistir de ser corintiano. Mas corintiano não desiste. Porque ser corintiano é razão de existência. Quando menos se espera, corpo e alma estão amalgamados ao amor pelo Corinthians. Não vibro pela vitória. Não vibro pela derrota. Vibro pelo Corinthians, e agradeço por essa alma alvinegra ter dado a mim um motivo para sorrir – e chorar; enfim, para viver. Obrigado, Corinthians!